Portas Certificadas

Portas Certificadas

Dirigente de associação de madeira processada explica como será feita a certificação das portas de madeira e por que esse processo se fez necessário.

A Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), em parceria com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), divulgou no final de março os procedimentos de certificação de portas de madeira para edificações. A novidade deve auxiliar profissionais de suprimentos na seleção de fornecedores, já que as indústrias certificadas terão seus produtos ensaiados periodicamente para verificar o atendimento às normas específicas do segmento e à Norma de Desempenho (NBR 15.575).

Na entrevista a seguir, o diretor técnico do comitê de portas da Abimci, Roberto Pimentel Lopes, detalha como funciona o processo de certificação e como ele pode ser útil na gestão de fornecedores. Pimentel também atua como coordenador da comissão de estudos de normas de portas de madeira da ABNT e gerente técnico do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H).

Como vai funcionar o processo de certificação de portas de madeira? 
Trata-se de uma certificação voluntária dos fabricantes por meio de um convênio que a Abimci fez com a ABNT Certificadora. Será avaliado o desempenho do produto em ensaios no IPT para verificar o atendimento aos requisitos da norma NBR 15.930 – Portas de Madeira para Edificações. Uma vez que a empresa seja qualificada nos ensaios, a ABNT emitirá um certificado válido por três anos, renovável, e a empresa terá o seu sistema de gestão de produção auditado periodicamente. A cada seis meses, a ABNT visita a fábrica, faz coleta de amostras e as envia novamente ao laboratório, para validar os ensaios e a certificação do produto.

O que acontece se, numa das auditorias periódicas, os ensaios não forem satisfatórios, mesmo depois que a empresa já foi certificada?
A qualquer momento, se os produtos não forem aprovados nos ensaios, a certificação é suspensa até que se resolva aquela pendência. Essa é a diferença entre certificar e ensaiar produtos. Na certificação, o auditor vai para a indústria ou para o varejo e coleta a amostra no meio do processo. Não são feitos produtos específicos para serem ensaiados. São retirados produtos do estoque ou da linha de produção, e isso dá credibilidade à qualidade do material. O processo é permanente e contínuo.

Por que foi necessário criar uma certificação?
A certificação serve para regular o mercado com foco no desempenho e na qualidade. A porta de madeira é um produto que historicamente está entre os campeões de patologias de obras. Em muitas empresas e mercados, a porta está em primeiro lugar nas patologias por conta da qualidade dos produtos, de problemas de instalação e de uma série de outros fatores. A certificação foi uma ação de um grupo de empresas que representa cerca de 80% da produção nacional, e que decidiu apostar na regulação desse processo no mercado.

Esse alto índice de patologias está relacionado apenas à produção industrial ou há problemas no canteiro também? 
A porta tem problemas dentro da fábrica e fora dela. Dentro das indústrias, os problemas de qualidade estão se reduzindo, e a solução culmina com o lançamento do programa de certificação. Por outro lado, o canteiro de obras ainda precisa passar por muitas melhorias. A porta de madeira continua chegando cedo nos canteiros, no momento em que a obra ainda está muito molhada, não há estanqueidade de janelas, há vazamentos por todos os cantos, subsolo alagado, pedreiro chapiscando parede etc. Isso tudo é incompatível com a porta. Algumas obras têm enfrentado grandes problemas, com 30% a 50% dos produtos avariados.

Mas esse problema de canteiro não será resolvido com a certificação, não é mesmo? 
Em paralelo nós estamos promovendo outras ações, e uma das principais é o programa de formação de mão de obra junto ao Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) do Paraná. Vamos formar instaladores qualificados e certificados pelo Senai para trazer ao mercado, em cerca de dois anos, uma geração de profissionais que contribuirá bastante para reduzir o desgaste do produto dentro da obra.

Hoje existe algum tipo de problema relacionado à origem das madeiras? 
Atualmente, não. Quase 100% da produção nacional de portas é feita de floresta plantada. O uso de madeira tropical – da Amazônia – está quase que restrito a uma pequena fração de um mercado regular, documentado, mais voltado para o altíssimo padrão. Para a grande indústria processadora de portas, a produção é feita com madeira de floresta plantada.

O que vai mudar para os profissionais de suprimentos depois da certificação das portas?
Ficará mais fácil comprar os produtos. A construtora terá como fazer planilhas de concorrência mais equitativas, porque terá portas com desempenhos semelhantes. Os diferenciais serão voltados para a aparência e o acabamento do produto, itens desse tipo. Na essência, quer seja ela uma porta simples do Minha Casa, Minha Vida, quer seja para um residencial de alto padrão ou um hospital, o produto tem que atender à Norma de Desempenho.

O comprador precisa, obrigatoriamente, comprar apenas portas certificadas? 
As boas práticas no cenário de desempenho apontam para isso. Essa mobilização das construtoras e da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) pela revisão e validação da Norma de Desempenho aponta para um novo cenário onde o produto certificado é uma garantia legal que a construtora terá em relação a futuras demandas judiciais e ao passivo técnico pós-ocupação.

Como os compradores poderão consultar quais empresas são certificadas?
Essa informação estará disponível no site da Abimci, na ABNT Certificadora, no site do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) – o programa é registrado no Inmetro – e também, acredito que até o final do ano, estará no PBPQ-H.

A qualquer momento, se os produtos não forem aprovados nos ensaios, a certificação é suspensa até que se resolva aquela pendência. O processo é permanente e contínuo

Existe alguma estimativa de qual percentual do mercado deve conseguir a certificação?
Hoje, nós temos 15 empresas no programa e a meta de todas elas é certificar seus produtos. Acreditamos que até o final do ano todas terão seus certificados. Essas empresas representam cerca de 80% da produção regular do País. Elas estão passando [até o fechamento desta edição] por uma vistoria técnica preliminar, fazendo algumas adequações em sua gestão da qualidade para atender aos requisitos, e o próximo passo é fazer a auditoria nas fábricas e coletar amostras para ensaio no IPT. Depois que isso acontecer – entre abril e maio –, em mais 60 dias, no máximo, já teremos o relatório do IPT com produtos de empresas certificadas. Nossa meta é ter empresas certificadas no final de junho. Essa partida inicial tem dado muito trabalho, a auditoria está espalhada em vários Estados, mas depois que o processo começar, ele se dará naturalmente e será permanente.

Por fim, como as indústrias interessadas devem proceder para pedir a certificação?
A empresa tem que aderir ao programa junto à Abimci, que é a entidade de classe que está coordenando e mantendo o programa. As empresas que certificarem suas portas, automaticamente estarão certificadas dentro do PBQP-H também.

Fonte: Revista – Construção e Mercado – PINI Web.

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